Definir Velozes e Furiosos 10 com qualquer adjetivo é uma missão extremamente difícil, pois assisti-lo é uma experiência no mínimo peculiar, graças à grande confusão de reações que sua trama é capaz de causar.
Entre momentos divertidos e questionamentos do que você realmente está assistindo, a estrutura narrativa parece passar por espécie uma de crise existencial criativa.
Afinal, o que Velozes e Furiosos 10 quer ser? Uma emocionante primeira parte do final da franquia? Uma história de alta tecnologia de espionagem? Um thriller de vingança? Um filme sobre corridas de rua? Ou absolutamente nada?
É bem verdade que é totalmente possível juntar vários gêneros narrativos em um só filme. Porém, isso exige um nível de planejamento e roteiro, que o mais novo filme da família Toretto não passa perto de ter.
Isso faz claro com que em certos momentos as transições entre os núcleos ficam tão bruscas, mas tão bruscas, que existe a sensação de a tela estar exibindo filmes diferentes em paralelo.
Mas veja, apesar de ser o diretor, Louis Leterrier não é o grande responsável por essa bagunça. Aliás, ele, seu editor e toda sua equipe são verdadeiros super-heróis, pois dado o contexto caótico de começo de produção deste filme , é surpreendente que ele tenha conseguido entregar o que entregou.
Em meio a toda indefinição sobre o que o filme quer ser, Leterrier incluiu os flaps do foi filmado com e sem ele, e entregou um conceito principal interessante, porém, desenvolvido de forma rasa. Além disso, produziu cenas de ação impressionantes que, infelizmente, na maioria das vezes sequer tem contexto que as justifica.
O diretor ainda conseguiu imprimir parte de sua personalidade criativa em elementos característicos do filme, como os trejeitos do vilão interpretado excelentemente por Jason Momoa .
Leterrier só funcionou catastroficamente na tentativa de criar algum senso de risco nos arcos dos personagens. Mas, novamente, isso não é culpa dele, pois é realmente muito difícil criar tensão com prováveis mortes, se todo mundo que morre na franquia retorna de forma milagrosa.
Dos nomes conhecidos, quem mais chega próximo de ser julgado pelos fiscais do filme é o próprio Vin Diesel , que na figura de produtor, acredita piamente que a produção ‘com a barriga’ sempre vai resultar em algo lucrativo.
Como assumido publicamente pelo elenco e produção, devido à confusão de Diesel com Justin Lin , Velozes e Furiosos 10 foi criado enquanto estava sendo produzido. O reflexo disso é claro, há vários pedaços de história tentando se encaixar em um produto que nem estrutura de filme consegue ter.
Um filme, por estrutura, tem que apresentar seus personagens, para depois apresentar um problema, gerar um conflito e não concluí-lo final.
Este filme apresenta um problema, gera um conflito, volta para apresentação de problema novamente, daí termina no meio de um novo conflito. Não existe sequer uma conclusão prévia para tudo o que é apresentado.
Estruturalmente, Velozes e Furiosos 10 está mais próximo de uma coletânea de clipes de ação com 2 horas e 20 minutos, do que de um filme de fato.
Apesar disso, quem não liga para esse tipo de coisa, certamente vai ter algum grau de diversão no cinema, graças não só às já citadas cenas de ação impressionantes, como também pela forma como Jason Momoa e Jhon Cena encaram o filme .
A dupla nitidamente não leva o que faz a sério e causa uma reação interessante em quem está assistindo. Dado momento, se torna muito mais interessante ver como Jakob (John Cena) está interagindo com Brian Marcos (Leo Abelo Perry), do que acompanha a trama principal de Dom em busca do paradeiro de Dante , com uma atuação completamente fora de tom de Vin Diesel .
Um fato é que dava para fazer um filme bem melhor com algumas das várias ideias jogadas de qualquer forma na trama. Entretendo, a produção precisaria de mais tempo e calma para desenvolver uma história bem estruturada.
Como ponto positivo, a produção serve como uma excelente propaganda pró-greve dos roteiristas de Hollywood, que além dos melhores pagamentos, tem exigido ambientes mais organizados de trabalho.
Quando se troca de diretor com uma semana de produção e se inicia um novo roteiro, quase do zero, durante as filmagens, definitivamente não existe um ambiente organizado de trabalho.